sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Sapato de Cetim




De volta ao Alentejo, largos dias depois de Marrakech. Choveu, e a terra cheira a terra. É uma das vantagens do campo. E à noite há estrelas. Também as há sobre Lisboa, mas aqui vêem-se. Tempo de arrumar espólios. Recuperar conversas, leituras e notícias. Bush jr perdeu, pois. Que estava ele à espera. Todos os presidentes americanos têm o seu Vietraque. O de Clinton era roliço e usava saias. Estúpida colegial, bronco Bill. Hillary, mais dia menos dia, está lá. Talvez a segunda Commander in Chief. Inteligente, irritante e pespineta como Geena Davis. Retintamente americana. Mas não veste Prada como a Meryl Streep. Divina Meryl. Vejam o filme. Ela não é a «Grande Dama» do cinema americano. Ela, Mary Louise Streep, é a maior actriz da história do cinema. Gostava de a ver outra vez com o De Niro, mas o De Niro tem feito tanta cabotinice. É uma pena. Vale o Pacino, esse nunca facilita. E tem os olhos de goraz mais melancólicos e ao mesmo tempo mais ameaçadores que me lembro de ter visto num ítalo-americano. «Michael, you are my brother and I love you...». Que medo. Chove outra vez, pouco. Alentejo verde como a Irlanda. Imenso e rude encanto. Como é bela esta terra. E como é bela esta Europa. Alentejo, Minho, Provença, Bretanha, Normadia, Loire, Terras Altas escocesas, Lake District, Baviera, Boémia, Balaton, Bodensee, Andaluzia, Astúrias, Pais Vasco, Catalunha, Toscana, Puglia, Costa Esmeralda. Há muito mais, mas não me apetece continuar. Olha, o Wolf foi-se. Grande cabrão! O Padre Américo fez-lhe um justo epitáfio. Gente desta merece ser lembrada com o maior número de insultos possível. Nada de sentimentalismos. Assassinos e torcionários a História não pode branquear. «Never», como diriam os olhos de Pacino. Talvez o Pinochet ainda seja fuzilado um dia destes. Tem bom corpo para isso. Por falar nisso, a mentirosa da mulher de Ceausescu, a caminho do pelotão de fuzilamento, descalçou um sapato de cetim e atirou-o a um dos fuziladores. Se lembra a alguém. Que falta de educação! Vejam o Diabo veste Prada. Pela divina Meryl. That’s all.

Barão de Lacerda

16 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que voltou, caro Barão. Permita-me fazer uma observação: é cabotinice e não cabonitice (quando se refere ao De Niro). Há ali no texto duas ou três palavras a precisar de serem «remendadas», fruto de quem vem cansado.
Está lindo o nosso Alentejo. Está tal e qual a Irlanda, mas para melhor: temos melhor clima. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Estimável Barão,
A idade não perdoa e a fixação no mainstream assenta-lhe que nem uma luva à sua composição de personagem romântico-naturalista, mas previno-o, para sua informação e actualização, que não é a Rodham a futura Hillary da América, mas sim um rapazola chamado Barak Obama. Actualize-se, caro Barão, actualiza-se...
Bernardo Henrique-Levi

BellaMafia disse...

Tenho sempre receio de que qualquer coisa que venha anexada a produções - permita-me a expressão - hollywoodescas e o resultado acaba muitas vezes na recusa obstinada de ver determinados filmes por me falarem em rocócó cinematográfico. Sabe como é que é, excessos que a indústria da cidade Dos Anjos não se coíbe de injectar em tudo o que toca.
Vou dar a mão à palmatória desta vez e ver o "The devil wears Prada", com a excelentíssima Meryl Streep... cá regressarei com uma crítica à sua crítica.

Cumprimentos da sua assídua leitora.

Anónimo disse...

Caro Barão partilho dos mesmos gostos cinematográficos que o senhor. De Niro vende-se demasiado prefiro a linha do Al Pacino que mesmo sendo pouco versatil não consegue não ser brilhante. Perfume de Mulher, Scarface entre muitos outros são interpretações geniais. Meryl Streep é a melhor atriz na minha opinião vou ver o Diabo para a ver a ela.

Anónimo disse...

actriz queria eu dizer

Anónimo disse...

Também estou de acordo:
Al Pacino, ao contrário de Robert De Niro, não desperdiça o talento em produções menores.
Vi ontem o Diabo veste Prada. Divertido e enérgico (o realizador, David Frankel, assinara uma série de o Sexo e a Cidade). Sobre o desempenho de Meryl Streep: confirmo o que escreveu. A mulher é excelente mais uma vez.
A PERFECCIONISTA. 14.ª nomeação a caminho?

Parabéns ao blogue

O Restaurador Olex disse...

Estimado menino Saul

A propósito de Pacino, permita-me uma opinião sobre os desempenhos que cita. Bom em Scarface e bom em Perfume de Mulher, onde ganhou o Óscar que merecia há muito... e que devia ter recebido por outros papéis, bem mais encorpados e conseguidos.

Anote:

«Padrinho» I
«Padrinho» II
«E Justiça para Todos»
«Serpico»
«Padrinho» III
«Carlitos's Way»
«Heat» (c De Niro)
«Insomnia».

Estimações

Barão de Lacerda

O Restaurador Olex disse...

Caros menino Saul e Barão de Lacerda
Quer-me parecer que o meu colega do mundo do espectáculo Alfredo James Pacino, Al para os mais chegados, merecia mais uma ou outra referência quanto ás fitas em que entrou. Assim, se me permitem e não querendo ser exaustivo, gostaria de acrescentar "Um Dia de Cão", "Frankie & Johnnie", "O Advogado do Diabo", "Donnie Brasco" ou mesmo "O Mercador de Veneza". Certo que nem todos estes filmes serão obras-primas, mas todos contam com um algum brilhozinho pelos olhos do "fucking" Pacino.
Fica um abraço em celulóide do
Tawny de Mattos

Anónimo disse...

Carlito's Way é brilhante ao lado do advogado e despenteado (parecia a Rita Blanco) Sean Penn, no Padrinho II é para mim muito superior aos outros 2, o Heat gosto bastante mas está longe de ser um filme de culto. O Insomnia está bom mas o papel do Robin Williams está muitos furos acima do do Mestre Al.O Frankie and Johnnie é um romance fraquinho com a M.Pfeiffer na minha opinião.
Só mencionei 2 mas podia ter mencionado muitos mais claro. É simplesmente o maior. Nunca filmou com o De Niro curiosamente, no Heat só têm uma cena em comum (cena no bar de auto-estrada) mas segundo parece não se encontraram. A cena da morte do De Niro no fim não foi filmada junta também. Talvez não haja espaço para 2 monstros.

BellaMafia disse...

Caros co-comentadores:

Eu não quero ser do contra, mas por favor, como é possível ignorar a performance de Pacino em "The Insider"... a parelha com Russell Crowe é fabulosa, ritmada, um verdadeiro ballet que não se perde num ecrã de 20 polegadas, e Al Pacino é brilhante conduz tudo e todos ao seu ritmo (e ao ritmo de Jan Garbarek e Lisa Gerard, sejamos justos), até o experimentado Christopher Plummer se vê incluído numa dança que faz a "Música no Coração" parecer uma película para infantes.
De facto a versatilidade do actor é tão grande e exponencial que mesmo a fazer papel de treinador de futebol americano em "Any Given Sunday" consegue ser inspirador...
É sem dúvida um dos melhores representantes da arte cinematográfica... a par do sir Anthony Hopkins.

Anónimo disse...

É um crime mas ainda não vi o "The Insider" mas concordo com o que diz do "Any Given Sunday" (só ele mesmo).

O Restaurador Olex disse...

Caros co-co-comentadores

«Um Dia de Cão», evidentemente!, assim como «The Insider». Dois esquecimentos de estalo, irra!
Acrescento à lista «Glengarry Glen Ross», quiçá «Sea of Love» (que marca o regresso após fracasso estrondoso de «Revolution») bem como o fabuloso «Angels in America» (Tv), em que o Master finalmente contracena com a divina Streep. Não vi o «Any Given Sunday». Sobre «Heat» (Mann): acho um belíssimo policial. Estilizado, glacial, perpassado de uma urgência aguda. «Passion duty» de Al vs. frieza cerebral de Bob. Com um perturbador Kilmer, uma óptima Judd (ah, bela Ashley...) e aqueloutro (como se chamava o rapagão?), mais humano, mais contido.

Já agora, estimados confrades de palheta cinéfila: depois de
De Niro-Pacino-Hoffmann ocorre-vos algum monstro sagrado na forja?

Por mim avanço Edward Norton. Sem hesitação. Acima de Di Caprio.

Também gosto muito, muito do Kevin Spacey.
E de Morgan Freeman, Gene Hackman, Eastwood e Robert Duvall. E de Denzel Washington. Ed Harris, Nic Cage, Sean Penn, Pitt, Del Toro... raça, são tantos. Nunca mais saia daqui.

À estimada BellaMafia: Hopkins, of course!, mas também Jeremy Irons, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Liam Neeson, Robert Carlyle, McGregor, Pete Postlewaite, Day-Lewis... além do grande Albert Finney, Ben Kingsley, Colin Firth e mais uns (muitos) quantos. «Rule Britannia»... é outra coisa.

Estimações

Barão de Lacerda

Anónimo disse...

Por falar em Edward Norton, o Al do século XXI papel brutal em "The 25th Hour", A última hora em português de outro mestre (Spike Lee). Aquela atmosfera New Yorkina pós-11 Setembro. Quem não se lembra do monólogo do Ed Norton na casa de banho na véspera do primeiro dia do resto da vida dele. Momento alto de cinema.
Nos ultimos tempos, brilhante foi o filme "Crash" que me deixou de rastos tamanha é a violência psicológica que contém.

Anónimo disse...

Por falar em monstros britanicos, junto mais uns: Gary Oldman, Ian McKellen, Sean Connery, Gabriel Byrne, Denholm Elliott, John Hurt e Ian Holm.
Mas e mulheres?
Quem sera' a proxima Streep?
Eu voto na Hilary Swank.
E nao estou a falar de beleza mas de desempenho.

Giso

O Restaurador Olex disse...

Caro anónimo:
E o meu colega Peter O'Toole? Lá por ter nascido no Eire, não conta? Sempre está mais vivo que o Denholm Elliott, "a good old chap" que se finou em 92...
Quanto ás senhoras e á rapariga Streep, olhe, é como o Eusébio: não há mais por mais que os do Benfica queiram.

Um abraço cinéfilo
Tawny de Mattos

Anónimo disse...

Estimado Tawny de Mattos,

Eu sei que ja' morreu, mas e' um dos meus actores preferidos. E os filmes, felizmente, nao morrem.

Cumprimentos,
Giso