quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Dies Irae (1755 -2006)


"Porquê Lisboa que não tem mais vícios
Que Londres ou Paris, mergulhadas nos prazeres?
Lisboa está destruída e dança-se em Paris!"

Confesso que sempre que se aproxima o 1º de Novembro, uma certa ansiedade me acompanha. Não por ser Dia de Todos os Santos, merecido feriado, mas porque, como bem sabem, em 1755 Lisboa ficou em cacos.

Pouco passava das 09.30h a.m., e os fiéis, lembrando os que já se tinham encontrado com o Criador, enchiam as igrejas e estas de velas. Dá-se o 1ºabanão que, democraticamente, destrói palácios, igrejas, casas de alterne, shoppings! Lisboa arde de fio a pavio! O povo fizera "ouvidos de mercador" aos alertas da Protecção Civil e acendera as malditas velas... Como bónus, o mar encapelou-se furiosamente e depois cantou-se o fado. Crónicas há que rezam ter-se visto o fundo ao Tejo umas 5 ou 6 vezes! No Portugal de hoje chama-se a este fenómeno tsunami em vez do vernacular maremoto, desconhecendo-se razão para a substituição do vocábulo. Enfim, a par com o descalabro na Educação, sobram gritarias, mortes, destruição, abusos sexuais, pilhagens e por aí fora.

Mas há sempre lições a retirar e atentemos em duas interpretações para a ira divina e suas consequências:
Laurent Éttienne Rendet, famigerado jansenista, atira as culpas para a coroa portuguesa que dera demasiada trela aos jesuítas. Por outro lado e muito á portuguesa, o meu distinto colega, o Pe. Malagrita, encontra um bode expiatório no bom Sebastião José, Marquês de Pombal, por este ter corrido a pontapés a Companhia de Jesus.

Porém, a explicação é mais simples:
Deus, na sua infinita misericórdia, olhou cá para baixo, viu que alguns cabotinos se lhe queriam substituir na criação de beleza e pensou:
"Isto é plágio! Isto não vai lá á paulada..."

Relativamente satisfeito por mais um anito sem maior castigo, agradeço, penhorado, ao amigo Voltaire a cedência gratuita do excerto do seu "Poème sur la destruction de Lisbonne"
Padre Américo

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu só quero ver Lisboa a arder/ e a blogosfera também / e nem quero saber / o que mais para aí vem

Anónimo disse...

Ena, temos poeta!
De onde traduziste isso, janota?

Anónimo disse...

Terramoto - Maremoto - Incêndio - Cheia. Lisboa 4 X 4. Se fosse hoje quantas almas se finariam senhor padre Américo? Faz uma pequena ideia? Não?
Então leia o Evangelho segundo
Jomago Saramé, às ordens de vosselência