quinta-feira, 22 de março de 2007

Grande piano na Gulbenkian


Andar sempre a dizer que em Lisboa não se passa nada começa a ser estilo. Para além das barracadas da Câmara Municipal e das manifs contra o governo, vai havendo música e da boa. Isto apesar do Mega do CCB acabar com a festança e da existência dos podres poderes do secretário de estado da "Cultura" Vieira de Carvalho. Lembrem-se que o badameco correu miseravelmente com Paolo Pinamonti, o tipo que andou a afinar o São Carlos nos últimos seis anos - vide as produções operáticas como As Valquírias em tela gigante exterior para entreter o pagode e cujo sucesso trouxe os artistas para o largo agradecer aos esfaimados culturais da capital. Enfim, corra-se com o italiano e volte-se para trás 20 anos.
Mas não é para falar deste saloio insignificante que aqui estamos mas sim vos fazer pirraça. Pois foi, o Maurizio Pollini veio dar um recital na Gulbenkian e tive a sorte de ter um bilhetezinho para a 1ª plateia. Que tal,hein?

O gajo está em boa forma e trazia á primeira vista um repertório estranho. Ainda o respeitável público estava a desligar os telemóveis e já do piano vinham as dificuldades sonoras compostas pelo boche Stockausen de quem não posso dizer ser o maior admirador. No entanto Pollini mostrou que em doses moderadas a coisa vai.
De seguida o complexo até porque bipolar Schuman, que alguns dos presentes não conseguiram seguir ouvindo-se até que a execução da Kreisleriana, op.16 parecia de um aluno médio do Conservatório!!! Eu, surdo como Beethoven e de musiqueta percebendo pouco, pareceu-me mais que o encadeamento de tonalidades e diversidade harmónica da Kreisleriana em novas fronteiras formais podem facilmente atrapalhar a apreciação dos mais, digamos, distraídos.
E já que se falou no mouco, foi com a Sonata Nº29 em Si bemol maior, a Hammerklavier que o Maurizio terminou o contratado. A "Hammerklavier" é a mais estranha sonata de quantas o Beethoven se lembrou de compôr, acho eu. Pollini deu-lhe bem mas não o suficiente para fazer esquecer a magnífica interpretação de Emil Gilels para a Deutsche Grammophon, sobretudo no Adagio Sostenuto em que o sacana do russo aguenta o andamento lento com tal largueza e densidade que faz arrepiar os cabelos do peito (a quem tem, é claro).
Foi bom mas acabou-se e de repente percebeu-se que o repertório escolhido para este fim de tarde tinha razão de ser. Esperto o Pollini.

Da enregelante Praça de Espanha enquanto o táxi não vem, aproveito para mandar um abraço
Tawny de Mattos

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