terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Tu-tu-tu merda


A música do resort onde preguiçosamente fiquei na última digressão caribenha é que era uma pena. Estupores. Sempre a mesma coisa. O Elton, o Simon e o Garfunkel, o Condor Pasa e outras merdas num asséptico tu-tu-tu flautado. Tu-tu-tu no elevador, no hall, em todo o lado. Oh, inferno. Estranha tendência esta que leva hotéis e resorts de bom gosto a assassinarem melodias conhecidas [algumas bem decentes] como se fosse suposto os hóspedes quererem essa porcaria desse zumbido, esse ferretezinho sonoro nos tímpanos. Uma vez li uma imbecilidade numa revista de decoração de interiores sobre a conveniência de ouvir «chill out» deitado na rede do bungalow, algures nos trópicos. Pensamentos fluidos, deixa-te ir, essas merdas. A menina que escreveu isso merecia um bofetão e um tsunami pela varanda dentro. Parvalhona. Lembrei-me logo da musiqueta no elevador, no hall. É mais ou menos a mesma paneleirice. Que nervos. Isto dura há séculos. Eu, director do hotel, descarregava-lhes uma rocalhada das antigas pela instalação sonora. Ramones, por aí.
E se mandasse no Reid's do Funchal despachava um Wagner pela fresquinha para acordar as antiguidades. De todo o modo, confesso: tenho medo, muuuito medo, do dia em que ouvir num hotel a versão tu-tu-tu do pi-pi-pi-de-quartzo do marreco Carvalho; aquela canção execrável do Carvalho (grande voz, não obstante) «...que frustraçãããão/ não és dótor». Tenho medo só de imaginar. O drama, o horror.

Do vosso Camillo Alves

1 comentário:

Anónimo disse...

pronto, está bem