O Que Diz Molero
Ontem á noite 'tava um frio do caraças e, na falta de aquecimento central cá em casa, enfiei-me na Sala Garrett do Teatro Nacional de D. Maria II. Em cena está "O Que Diz Molero", um dos meus romances preferidos em versão quase integral. O encenador chama á coisa um "romance em cena".
A trupe que sobe ao palco é brasileira e, durante duas horas e meia, Aderbal Freire Filho encena uma viagem com personagens de um Bairro Alto que já não há e aproveita-se para dar um valente enxerto de porrada nos camones ( a melhor descrição de pugilato de rua que conheço), com o Ângelo, depois de guardar a harmónica em que entre tangos vários tocava o Concerto de Varsóvia(!), a despachar a marujada americana com uma rapidez e eficácia de fazer esverdear de inveja os heróis de Arte & Porrada de Hollywood. Pelo mesmo preço dá-se a volta ao Mundo com o Rapaz , personagem central da trama e de quem nunca sabemos o nome, numa velocidade vertiginosa como se fôssemos á pendura na motocicleta cheia de cromados do Marocas Papa-Milhas, o que tinha a mania das curvas rápidas...
Bom, se me permitem a sugestão, vão ao Nacional até 4 de Fevereiro. Se não der, paciência, fiquem pelo livro, até que o Zé Pedro Gomes e o António Feio se decidam a repôr "O Que Diz Molero" na adaptação do Nuno Artur Silva, que tanto êxito teve durante a Lisboa 94.
Certo é que Dinis Machado, a escrever como poucos e, ao tempo, de uma maneira inovadora - o que ainda hoje deve enervar o chatolas do Saramago...-, bem nos podia brindar com mais um livrito ou outro...
Com um abraço molièriano
Tawny de Mattos
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